segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sacolejada teatral

Por Chico Guedes
No encerramento da temporada d’O Bizarro Sonho de Steven este sábado à noite no Galpão 29, na Rua Chile, o Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias provou mais uma vez que faz o teatro mais inteligente, instigante e provocador de Natal no momento.

A peça dessa espertíssima moçada do Conjunto Pirangi foi montada com a verba do prêmio Myriam Muniz − uma história que envolve MinC-FUNARTE e Petrobrás − e desde a estréia um mês atrás no espaço que eles ocupam no na Coeduc, em Neópolis, já se apresentou também na Associação Cultural do Bom Pastor, no Centro de Formação e Pesquisa Teatral, no Tirol, e na Escola de Teatro Carlos Nereu, na Zona Norte.

O Bizarro Sonho de Steven é o primeiro fruto maduro do Facetas e Mutretas desde que Enio Cavalcanti, Rodrigo Bico, Alex Cordeiro e a professora Monique Oliveira decidiram em 2006 transformar em companhia profissional um grupo de teatro nascido numa escola estadual de Neópolis em 1999.

Trabalhando a partir de um texto de Eduardo Vinicius, formado em Letras pela UFRN, o Facetas criou um espetáculo que explode as expectativas de platéias formadas na experiência convencional de teatro. Não há cadeiras e o público é levado a se mover de acordo com os acontecimentos. O uso surpreendente da luz, som e câmeras de TV ajuda a criar o ambiente onde os personagens borram de maneira às vezes cômica e quase sempre perturbadora a linha entre a violência pop dos cartoons e dos filmes juvenis de porrada e a crueldade real a que são submetidos os mais fracos, os “perdedores” do darwinismo social que impera no mundo.

Pros que conhecem teatro de vanguarda no Brasil e pelo mundo afora muitas referências serão reconhecíveis. Em comum com outras experiências parecidas há o claro intuito de sacolejar estética e moralmente a nossa passividade e/ou cinismo de espectadores.

Uma observação: pela natureza e exigências espaciais da peça, seu impacto depende da relação entre o espaço e o número de pessoas. Nesse sentido as apresentações no Coeduc, no Bom Pastor e no Galpão 29 ontem à noite foram ideais, enquanto o segundo dia no CFPT, no Tirol, por exemplo, o público excessivo teve a visão e o acompanhamento do espetáculo muito prejudicados. Torço para que a peça volte ao cartaz, e sempre em espaços adequados.

E é bom ficar de olho nessa moçada!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Outros desejos em outrens

Pela primeira vez vi o desejo
atrapalhar qualquer outro sentimento.

Imaginem duas pessoas que se veêm muito pouco
e quando se encontram
não fazem nada mais além do que se desejarem
mutuamente, entre afagos (carinhosos e ásperos)
ambos degladiam-se
com o intuito de aproveitar cada instante solto
nessa massa de atmosfera oca em que habitamos
ao final desse curto espaço de tempo
em algum pequeno espaço geográfico
os dois despedem-se quase sem se falarem

Quase nenhuma palavra em meio a tanta cumplicidade
Apenas um grande desejo de aproveitar o tempo que se tem
Para fazer a coisa que mais gostam.

Sem chance alguma para nenhum outro sentimento
Certamente, buscarão esses em outrens.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sonho

Te chamei para dançar na esperança de beijar-te mais uma vez, aceitastes o meu convite e dançou comigo uma noite inteira, fiz o que nunca havia feito, te roubei um beijo, e nos beijamos como nunca havíamos nos beijado. Ao final nos olhamos e secamente me dissestes: Satisfeito?

E seguiu sem olhar pra trás.

O Bizarro Sonho de Steven

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

HIPÓTESE DO HIPOPÓTAMO TARTAMUDO

Uma balada comportamental

Bráulio Tavares


Imagine um hipopótamo
Tartamudo e espantado
Amarrado na rua do Ouvidor
Triste como um filho póstumo
Escutando estarrecido
O enorme ruído das gargalhadas do mundo em redor

Esta criatura trágica
Este corpanzil corcundo
Abrindo uma guela áfrica
Botando a boca no mundo

Pois é assim que eu sou
Pois é assim que eu sinto que sou
Quando subo num palco pra cantar
Padecendo o mais péssimo dos medos
E nem mesmo consigo dedilhar
Com o tremor que me dá em cada dedo
Tanta gente escutando a minha voz
Tantas caras e pares de ouvidos
Mas a guela escorrega nos bemóis
Ou então nem alcança os sustenidos

Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de cantar
Um negócio extremamente ótimo
Eu acho também:
Mas eu me sinto um hipopótamo

Imagine, novamente, um hipopótamo
Caminhando equilibrado
Num fio de arame farpado
Longuissimamente esticado
Por sobre as enormes cachoeiras de lá da foz do Iguaçu
Inquieto como átomo
Sob o foco das câmaras de TV
Sem olhar pra baixo pra não ver
A cascata rugino pra valer
E a risada feroz de Belzebu...

Pois é assim que eu sou
Pois é assim que sinto que sou
Quando fico de olho numa mulher
E ela fica também de olho em mim
E eu sei muito bem o que ela quer
Porém fico enrolado mesmo assim
Tropeçando nas minhas próprias pernas
Sem saber o que faça, como e quando
Infeliz como um homem das cavernas
Oscarito imitando Marlon Brando

Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de trepar um negócio extremamente ótimo
Eu acho também!
Mas eu me sinto um hipopótamo

Imagine, finalmente, o hipopótamo
Num pantanal movediço
Afundando pesadíssimo
Sentindo a boca do abismo
Sorver suas bobas toneladas
Ofegante como um búfalo
Berrando, pedindo ajuda
No ouvido da selva surda
Sem ter ninguém que lhe acuda
Mesmo porque já passa das quatro e meia da madrugada

Pois é assim que eu sou
Pois é assim que eu sinto que sou
Quando às vezes me olho num espelho
E percebo que desde que eu nasci
Que eu só faço viver e ficar velho
Sem saber o que vim fazer aqui
Com a corda do tempo no pescoço
E os pés a pisar num alçapão
Mil perguntas doendo em cada osso
Mil cantigas pedindo explicação

Eu sei que tem gente que é muito mais valente
E acha essa história de viver
Um negócio extremamente ótimo
Eu acho também
Mas eu nasci um hipopótamo

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Uma em meio a um Jardim

Lembro-me de uma rosa
pronta a desabrochar
percebia-se em sua delicadeza
em seu botão ainda verde
que ela seria linda

Não me era obrigação regá-la
nem fazê-la florescer
quanta petulância a minha
se tivesse esse poder
deixei o tempo tornar-se responsável
por tal brotar

E hoje vejo-a rubra em seu bailar
cheia de espinhos
que em vez de machucar
acariciam

E hoje tive a felicidade
de comtemplá-la com mais apreço
a toquei, senti o seu cheiro
e pude comprovar o quão estava certo

Ela é linda, dócil
de boca rubra
pele morena
e olhos cor de mel

domingo, 16 de agosto de 2009

Um aspirante a Boêmio

Caminhamos juntos já faz um bom tempo
Um companheiro de longa jornada
de longas noites
regadas a doses excessivas de intorpecência

Vejo ao longo do tempo coisas amadurecerem e se esvairem
amores que se foram
cigarros que se foram
amigos que seguiram

Mas continuamos aqui
Em idas e vindas
encarando noitadas, mulheres
poesias, discussões
e muitas coisas vãs
assim como foram as noitadas, as mulheres
as poesias e as discussões

sentemos em mais uma mesa de mais algum bar
alternando entre ruas e vielas taciturnas e melancólicas
e espaços luxuosos de nossa cidade ainda pacata
comemorando diariamente nossa natalidade
como todo Poeta que se preza.

Citando Drummond, vamos de mãos dadas
continuando essa jornada de anos
indo e vindo
em meio ao odor repugnante do cigarro
de doses generosas de álcool
e de mulheres vãs e de beijos vãos
em busca de nossos desejos vãos

*a Bruno Costa, poema incidental após uma ligação de nossa amiga Jeane

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rapidinha...

Gosto de mexer na merda
pra vê-la fedendo...

Poé(lí)tica

Minha poética encontra-se cansada
de tantas desmedidas políticas

Estas, por sua vez, esvaem-se na falas e nos gestos
de poetas mal pagos, mal amados e mal sonhados

Minha Política se faz em minha poética
em minha calma
em meus atos

Pois, todos os fatos são ralos
por onde escoam
as poéticas falidas

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Frio

Hoje trago comigo
camisas de mangas compridas
para que não mais dependa
de seus casacos
e do calor de seus braços.

Pureza/RN

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Escreveram sobre o Grupo e sobre mim...

Galera, vejam só o que escreveram sobre Rodrigo Bico e o Facetas. Só pra amaciar o ego...

rsrsrsrs

http://menuculturalnatalrn.blogspot.com/2009/07/ida-ao-teatro.html

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um Bizarro Sonho

Todos os silêncios são possíveis, todos os olhares cruzam-se, vivemos um momento considerado delicado do processo.

A ansiedade nos toma, gerada pela incerteza do que será esse Bizarro Sonho. Apenas nos deparamos com imagens, com o desejo da construção de um roteiro [enfim] palpável, que tenhamos controle sobre ele, que saibamos qual rumo estamos tomando, não que não saibamos que caminho é este, mas ele ainda nos é obscuro, estamos naquele ponto em que as pálpebras pesam e que sonhamos acordado, esses olhos precisam se fechar de vez, devemos dar boas vindas a esse sonho que nos é apresentado, deixar que ele entre e vivamos juntos essa impossibilidade que nos é suscitada pela vida.

TECESol, Natal/RN 24/06/2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cia de Dança do TAM no Teatro de Cultura Popular

Clique na Foto para visualizá-la melhor

Nesta Próxima Sexta-feira (3 de julho) vocês terão a oportunidade de assistir a Cia de Dança do Teatro Alberto Maranhão no Teatro de Cultura Popular (Rua Jundiaí, anexo a Fundação josé Augusto) a partir das 20 horas, no elenco estão grande parte dos bons Bailarinos e Bailarinas da cidade, com destaque para Anádria Rassyne e Rodrigo Silbat, que na última semana foram aprovados no Concurso do balé da Cidade de Natal e que provavelmete esta seja a última apresentação dos dois pela Cia do TAM em solo Potiguar. Vale a pena vê-los, não só esses dois citados, mas toda uma Cia que vem se destacando Brasil a fora, sobre a tutela de Wanie Rose que com todo seu carinho e seu talento cuida dessa galera como uma mãe, sou testemunha viva disso, já vi com esses olhos que a terra há de comer. Jovens, esbeltos, não-esbeltos também (risos), mas belos em seus bailados.

Acompanho essa galera desde meus 15 anos, quando ia ao Teatro Alberto Maranhão, por um projeto chamado Quarta na Dança, e adorava, delirava e sonhava um dia conhecer aqueles meninos e meninas, e vejam, hoje são minhas amigas e companheiras de Faculdade, já fiz até curso na EDTAM, quem diria...

Pois bem, vão lá e prestigiem essa juventude que dança e que encanta.

"Tudo dança hospedado numa casa em mudança."
Paulo Leminski

OBS: entrada R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)

terça-feira, 23 de junho de 2009

"O Imperador das Fabulações" esta Quinta no DEART

Nesta próxima quinta-feria (25 de junho) serão apresentados os Experimentos Cênicos resultantes da disciplina de Encenação II do Curso de Educação Artística da UFRN, orientados pela Professora Naira Ciotti, entre os estudantes/encenadores temos atores e bailarinos carimbados no Cenário artístico Potiguar, entre eles destacam-se o ator Doc Câmara (A Mar Aberto/Atores à Deriva), as atrizes Quitéria Kelly (Pobres de Marré/Grupo Carmim), Telma Rodriguez (Narrraça), as Bailarinas Andréia Melo e Anádria Rassyne (ambas da Cia do TAM), e mais uma galera fantástica não muito conhecida nas artes Cênicas do Estado, e eu também estarei figurando entre estas ilustres criaturas, encenando "O Imperador das Fabulações", experimento inspirado no Pensamento do Geógrafo Milton Santos e de minha autoria. Apareçam, prestigiem, divirtam-se ou não...

Vejam Fotos de meu Experimento ( por Ricelly Pereira):



***



quinta-feira, 18 de junho de 2009

Janela indiscretíssima...

A uma distância de aproximadamente dez metros, observei por quinze minutos através de minha janela, um casal bailar, blefar, brigar, beijar e sonhar...
Absorto com toda aquela vida que se passou em tão pouco tempo, e que levou-me a quase pular fora de mim, da janela. Eram eles quem bailavam, mas era eu que ofegava, angustiado com toda aquela situação constrangedora, vivida por eles, e que eu posto em minha janela me vi obrigado a ver toda aquela situação...

Não que eu não gostasse, era bom, era bonito, mas era sofrido, doloroso. Percebi o quão é dolorosa a vida a dois, por quantas incostâncias passamos, por quantas dores engolimos.

E sem que saibamos, somos o tempo todo observados, nos olham, falam de nós, intrometem-se e deixamos que se intrometam. Criamos uma situação muito pior do que a criada pelo Grande Irmão de George Orwell.

Assisti a tudo calado, aguentei a tudo cheio de angústia, me reconhecendo naquelas figuras, no desejo de ir e de ficar, no desejo de segurar o outro na esperança de que as coisas mudem, no desejo de que o outro esboce uma reação mínima que seja, que deixe sua frieza de lado e entregue-se, mas é tudo vão, os desejos para quem não amam transformam-se em simples incomodos desnecessários...

Ele pára frente à porta, chora durante alguns segundos (talvez por um falso saudosismo) e parte para algum lugar...

Ela fica, chora durante alguns segundos (talvez pelo grande amor que sente por ele) e dorme...

Eu apago minhas luzes, tocado não por um, mas pelos dois... Não queria observar-lhes e me deparar com tal situação, não queria ver que somos tão feios e fracos. Mas não pude me conter, eram belos demais para não segurarem o meu olhar, para não suspenderem a minha respiração, por mais que separados (agora) suas afinidades transformaram-se em movimentos, e que afinidade e que movimentos...

Certamente sonharei com vocês no meu próximo sono, espero que bailem e que voem, isso vocês poderão fazer a vontade, pois não estarão em um palco, mais na matéria onírica de minhas imaginações.

Desculpem-me pela (in)descrição.

Rodrigo Bico
"Crônica criada a partir do Experimento Cênico dirigido por Anádria Rassyne e orientado pela Professora Naira Ciotti, pela disciplina de Encenação II no DEART/UFRN"

domingo, 7 de junho de 2009

Uma Fábula que passou...

Em meio a tantas loucuras encaradas na sociedade dita Urbana de Natal, parti com os meus companheiros de Grupo para a Região do Mato Grande, mais precisamente para o Projeto de Assentamento Canudos (Ceará-mirim) e a Comunidade Rural Bebida Velha (Pureza), Zonas rurais como muitas existentes em todo o Brasil a fora, mas o fato de dirigir-me até a estes lugares para apresentar nosso espetáculo (A Ida ao Teatro) tornou-as diferente das outras. Partimos na Manhã do ùltimo sábado (6 de junho) com medo da chuva forte que caia no céu da capital potiguar atrapalhar nossa viagem e nossas apresentações, mas fomos repletos de pensamentos positivos, Cenário, adereços e vontade de transformar o mundo (pobres ambiciosos utópicos).

Chegamos por volta das 12h e 30 e fomos recebidos com muito carinho por alguns moradores da comunidade de Canudos, almoçamos e fomos jogar Sinuca no Bar de Dona Ercília, cheia de sorrisos e boa vontade, tentando contagiar as pessoas com nossa alegria e modo de brincar, surgiram jogadas inacreditáveis, pulos e dancinhas incríveis e ao fundo um som peculiar, nada de Forró tipo Exportação, mas um Forró instrumental, orquestrado e na capa dos CD's diziam assim: Kalú e seu Fole e Pedro Antônio, um pé-de-serra do mais alto nível.

Pois bem, descansamos e fomos montar o cenário, apresentamos como nunca apresentamos, o espetáculo pareceu mais uma conversa de comadre do que uma apresentação teatral, pois o público tinha uma intimidade incrível com os atores, cochichos gritados, risos extravagentes, Cachorros que brigavam pela comida usada em cena, acessórios que desaparecem ou nem apareceram, enfim um pandemônio (no bom sentido), uma apresentação pra ficar em nossa memória, impregnada em nossa pele, em nossas veias. Mais tarde voltamos ao Bar de Dona Ercília e fomos jogar mais sinuca e alguns goles de cerveja, pude ganhar 9 partidas consecutivas com direito a Cara-de-gato no dono da Mesa, os mais sábios chamam isso de "sorte no jogo, azar no amor" (talvez os sábios tenham razão). Na mesma noite sob a lua cheia e irradiante ouvimos violão, jogamos conversa fora e dormimos...

E aventura em Canudos ainda não havia terminado, acordamos por volta das 6 da manhã e fomos de carroça visitar os mamoeiros, os viveiros de tilápia e a criação de Patos, sem dúvida mais um momento inesquecível...

Partimos para Bebida Velha em Pureza no meio da manhã, de barriga cheia e de alma alimentada, sabíamos que iríamos encontrar por lá uma comunidade 8 vezes maior do que canudos, e de fato isso se fez real, começamos visitando a recém inaugurada fábrica de Amêndoas (castanha de caju). Bastos nos recepcionou com sua alegria e humildade e nos acompanhou durante todo o dia com Sônia (Professora) e sua filha Isabela, ao contrário da recepção do Bar de Dona Ercília, nos deparamos com uma relaidade nem um pouco bucólica, mas um som alto e de péssima qualidade tocando o dia todo no Balneário (local de nossa apresentação), e após um almoço fantástico, com direito a galinha caipira e feijão verde com manteiga da terra, pegamos nossos lençóis e travesseiros e fomos dormir num campo de futebol ao lado do Balneário, um campinho maravilhoso e por esse motivo habitado pelas brincadeiras inúmeras crianças, acreditem que em meio a crianças jogando futebol, o Violão sendo tocado, ainda conseguimos dormir, eu particularmente fiz tudo isso, joguei, cantei e dormi.

A Noite nos apresentamos em meio a um público não-pontual e um pouco disperso, talvez pela característica do espaço, mas ainda assim, fizemos uma apresentação sólida e repleta de imprevisibilidades. Após isso, jantamos e voltamos para casa.

Agora chego em casa, de fronte a máquina, com a sensação de que aquela pequena fábula vivida nesses dois dias tivesse, de fato, terminado, que pena... Pois venho precisando de fábulas para pensar em mim, por mais que isso pareça algo antagônico.

Venho pensando em minhas dores, em meus erros e em meus futuros que não terei.

Fica em meu olhar o olhar de pessoas que me abraçaram e que sorriram com minhas peripécias desordenadas, fica a beleza empoeirada do olhar de um povo que batalha diariamente por sua sobrevivência, e que sorriem... isso mesmo, sorriem sem excessos e com uma PUREZA inabalável, como foi a luta do inabalável Antônio Conselheiro e seus companheiros em CANUDOS.

Fica a alegria de andar de carroça, de jogar bola em meio as crianças e de subir ao palco e de mais uma vez brincar de ser outro.

Fica a Força de Livânia, Som, Zenaide, Dona Ercília, Tiago e Dorgival que tão bem nos receberam em Canudos.

Fica a esperança de Bastos, Sônia, Isabele e seus irmãos e Dedé que nos acolheram como concidadãos de Bebida Velha.

Obrigado ao Facetas, Mutretas e Outras Histórias por me fazer ser o que sou e por dividir minhas alegrias e caçoar de minhas tristezas.

Venho começando a aprender a ser só, por mais que caminhe junto as multidões.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Lançamento do Ponto de Cultura no Mato Grande

Cortina

E a lágrima escorre e sofro
Como todo ser vivente
Mas amanhã quando novamente o sol raiar
Quando as cortinas mais uma vez se abrirem
Terei que estar pronto novamente
Para levar o riso as almas sedentas de amor
E a fuga catártica necessária as nossas vidas.

de Rodrigo Bico

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Homenagens que recebo...

Muito feliz é o poeta
Que escuta seu poema
Na voz de outra pessoa
Que se encorpora no tema
E em tão sublime homenagem
Que nos faz ver uma imagem
como em tela de cinema

Assim é Rodrigo Bico...,
Com sua voz de trombetas.
Trás um turbilhões de versos
Mostra caras e caretas
E tem nas suas memórias
Seus versos, suas histórias,
Suas faces e facetas.

É um poeta alegreiro
Espalhador de alegria
Palavrador de palavra
Ortoador de grafia
Poemador de poema
fonemador de fonema
E dizidor de poezia

A todos nós eu dedico
Este Singelo poema
E agora me prontifico
por saber quem ele é
peço que fiquem de pé
E aplaudam Rodrigo Bico


de José Acaci

O Império das Fabulações



Neste ano tive a oportunidade de conhecer o Pensamento do Geógrafo Milton Santos e de fazer a abertura do VIII Encontro Nacional e I Encontro Internacional com o Pensamento de Milton Santos, que se realizou em Natal no IFRN e na UFRN. Abaixo segue o texto que escrevi e que interpretei nesta abertura.




O Império das Fabulações
O pensamento de Milton Santos por Rodrigo Bico

Personagem Aristocrata Clownesco

(entra distribuindo bexigas para o público, com uma ação de encantamento, numa atmosfera onírica, enquanto realiza esta ação discorre o texto abaixo)

Senhoras e Senhores sejam bem vindos ao maravilhoso mundo da vida, do avanço tecnológico, percebam o quão belo encontra-se o mar, o céu azul repleto de pássaros que voam onipotentes, livres, assim como a humanidade, que é livre e que age fervorosamente para que vivamos nesse mundo tal qual como nós vemos. Quem aqui não é livre para atravessar os mares, os oceanos? Quem aqui não é capaz de ver as maravilhas modernas criadas pela pós-modernidade. A humanidade avança a passos longos e bravios, a livre iniciativa e o livre comércio fazem com que sejamos capazes alçar vôos inimagináveis!
Ah! Como é belo ver que um em um milhão consegue o sucesso, a fama e o dinheiro, esse é um herói, um mito, uma lenda! Pois ele é somente UM, unicamente UM, um exemplo a ser seguido, a ser idolatrado.
Eu sou fruto da minha livre iniciativa! (Grita e deixa de entregar bolas)

Eu, somente EU!!! (ri exageradamente [1º sinal de esquizofrenia])

Eu fui capaz de negar toda a minha territorialidade, cuspir em meu povo, queimar toda a minha história e avançar! Rumo ao triunfo econômico e social, e vejam alcancei o mais alto degrau da fama. Adentro no mercado onissapiente e integrador da humanidade por meio do livre-comércio. Ah! Como eu deliro com tudo isso!

Adentramos no fantástico Mundo das Fabulações, num mundo encantado. Troco, diariamente, sacos de cimento por árvores. Pobres me chegam aos montes, pedindo encarecidamente sacos de cimento para as suas construções, e eu diariamente faço doações generosas de sacos de cimento às populações pobres e necessitadas. Aplaudam-me!!! Por favor, aplausos!
(Eloquente) No Próximo ano doarei milhares de canoas para as populações assoladas pelas enchentes, e enquanto faço isso outras populações inteiras vibrarão com minha atitude e me chamarão de herói e me transformarão num Mito!!! Quero aplausos! Muitos aplausos!!!

[2ª sinal de esquizofrenia]
(ri como se estivesse em estado de gozo olhando para a platéia)

Brasil abra sua porta para os avanços da perversidade humana! Abra o seu mercado, diminua o seu estado, precisamos do desemprego para alimentar nossas fabulações, o povo necessita da pobreza como naturalidade, do carnaval como letargia, do futebol como religião. (cantando e dando camisa da seleção brasileira)

O samba a gente não perde o prazer de cantar
E fazem de tudo pra silenciar
A batucada dos nossos tantas
No seu ecoar, o samba se refez (...)

[3ª sinal de esquizofrenia]
Está aberto o maior leilão da perversidade humana! Preparem suas apostas, suas ações e seus bolsos! Hahahahaaaa!
Enquanto milhares de cidadãos bondosos e preocupados com a nossa flora, com a nossa respiração, plantam pequenas árvores em seus quintais tão enfeitados de flores e de afetos, tão mimeticamente tratados, com um amor essencial aos humanos solitários, Eu! Eu abro o leilão de pedaços valiosos de terra com uma mata atlântica virgem e pronta para ser edificada a sua moradia saudável e próxima da natureza, e logo abaixo está presente toda a marginalidade pronta a receber nosso carinho assistencial!!!
Está aberto o Grande Leilão do Morro do Careca! Isto mesmo, nosso maravilhoso cartão postal pode agora ser seu e de seus amigos globalitários! Lá iremos fazer imensos banquetes que só a nossa globalização pode nos dar e os pobres não serão convidados! Porque quando são naturalmente excluídos apenas fabulam e sonham em ser convidados! A eles, restarão acompanhar como serviçais, será lindo vê-los fazendo nossos quitutes, servindo nossos drinques e pedindo para tirar fotografias conosco, pois somos os seus heróis, somos o alimento de suas fabulações!
Pois bem! Apostem, a aposta inicial de 100m² de terra sai pela bagatela de... de... de... 200 mil reais!
(Jogo com a platéia)



[4º sinal de esquizofrenia]
(risos frenéticos e incontroláveis o fazem tirar a roupa)
O que é? Por que me olham? Vocês para mim não passam de uma medíocre parte dos letrados brasileiros! Vocês amontoam-se sobre seus livros e se acham verdadeiros intelectuais! E neste mesmo momento que vos falo, me olham com ar de reprovação, (grita) não me venham dizer que existe uma transição em marcha! Não me venham falar que está por vir uma reconstrução do arcabouço político-territorial do país a serviço da sociedade, da população! As pessoas não querem saber disso, elas nem sonham com isso. Minha perversidade é letal e tenho a tecnologia única e eficaz sobre o meu controle, acredito na prevalência do dinheiro em estado puro como motor primeiro e último das nações, enxotaremos toda a pobreza em territórios de subsistência, ergueremos a fantástica muralha do capitalismo!!!
Não me falem que existem 2/3 de pessoas que não dormem porque sentem fome, e 1/3 de pessoas que não dormem por medo dos que sentem fome.
Agora vos lanço um desafio: quem aqui não dorme porque sente fome? Vamos falem! (Jogo com a platéia) Levantem os braços aqueles que não têm o que comer... hahahaha!!! Estão vendo, e levantem agora os braços os que tem medo dos que tem fome?

(realiza uma pequena gag sem conseguir abaixar os braços, seus braços ficam tesos para o alto e ele tenta baixá-los após realizar esta ação começa a falar o texto abaixo quase que em convulsão)

Parem! Eu não sou um desses. Eu durmo tranquilamente por doar sacos de cimento às populações pobres que derrubam árvores, eu durmo tranquilamente por doar canoas aos necessitados das enchentes, eu durmo por minha mulher doar mosquiteiros às populações e adota negros africanos. Eu não sou um desses! Não me venham com esse papo de revanche dos territórios, não me venham com falsos aforismos! Não me venham dizer que sou um esquizofrênico, que o espaço que crio torna-se esquizofrênico! O meu mundo é perfeito, para mim o meu mundo é perfeito para mim, para mim, para eu fazer minhas esquizofrenias! Para eu fazer minha esquizofrenias! Parem eu já não agüento mais vocês! Vocês não vão conseguir me destruir! Quando menos imaginarem tornarei o Mundo em mais um Império de Fabulações!

(Corpo congela no espaço, aparência desgastada, com roupas e maquiagens, respiração ofegantes, desconstrução e distanciamento do personagem)

Eis que me encontro frente a vocês e me pergunto: E se fosse diferente? Isto eu não farei aqui nem vos responderei, vou para o mundo real e perverso enfrentá-lo, na esperança de que vocês façam a vossa parte. Aqui está o exato ponto onde os caminhos se Bifurcam.

(sai e volta puxa uma das pessoas que estavam com a bola)

Se vocês estourarem essa bola de ar, verão a verdadeira perversidade que existe na beleza das coisas.

(estoura bola cheia de farinha sobre a cabeça da pessoa e sai)