sexta-feira, 29 de julho de 2011

Muitas personalidades em um só corpo

Arte como conceito de vida 
Por Élmano Ricarte


Até onde vai o “clown”, qual o limite para Bico e em que lugar se perdeu o Rodrigo? Pelas ruas de São Tomé, no Rio Grande do Norte, o palhaço arranca risadas eufóricas de senhoras e senhores, meninos e meninas, todos se iluminam pelas piruetas do teatro ao ar livre. O que está por trás daquela personagem que se move e transpira arte em seus movimentos?

Rodrigo Bico (Bicolim) por Élmano Ricarte


O “clown”, o palhaço da linguagem das artes cênicas, é a máscara da alegria e  risos para o mundo. O Bico é o amigo que cativa a todos e não deixa que as doenças aliadas da tristeza se aproximem. Rodrigo é o estudioso de Artes Cênicas que vejo no rosto desse rapaz, quando ele observa atento à encenação dos adolescentes que participaram de sua oficina de teatro de rua, no Programa Trilhas Potiguares, da UFRN, em São Tomé. Já Rodrigo Bico representa a cultura do estado nos pontos de cultura que se espalham pelas terras potiguares e trazem uma vida mais poética para seus habitantes.

Arte para nossas vidas! O “clown” Rodrigo Bico mostra que se viver for uma expressão artística é possível dar saltos nas dificuldades e seguir sorrindo sempre irradiando alegria.


São Tomé-RN, segunda-feira, 11 de julho de 2011.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Quanto aos "Rumos à Cidadania Cultural"

Hoje cheguei de uma viagem bastante produtiva. Fui a Recife para o Encontro promovido pelo MinC e sua recém-criada Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), articulei a rede dos Pontos de Cultura de nosso Estado (RN) junto a outros companheiros e com apoio da FJA (que cedeu o ônibus) fomos todos a cidade de Chico Science para particparmos deste evento.

A abertura foi feita pela Secretária Marta Porto que durante quase uma hora nos falou desse novo rumo a ser tomado pela sua Secretaria (SCDC) e foi além, nos falou de ética, de respeito e focou sua fala nas crianças, na juventude brasileira.

Marta Porto - SCDC
"Temos uma sociedade culturalmente forte e eticamente fraca", falou a Secretária. Essa frase resume toda sua fala. Ela nos diz que recebe um legado da gestão passada, e um grande legado, deste destacam-se os programas Brasil legal e o Cultura Viva. O primeiro abarca os projetos voltados para a diversidade cultural brasileira, as culturas ciganas, afro-brasileiras, indígenas, LGBT, do idoso e da acessibilidade, estes ficaram sobre a tutela de Américo Córdula na Gestão passada. O segundo, é aquele que podemos considerar o programa mais revolucionário que o estado pôde desenvolver ao longo de sua história que, parafraseando Célio Turino (idealizador do Programa), "desescondeu o Brasil". Os Pontos de Cultura representam para o Brasil a política de cultura mais descentralizadora que já existiu, levando aos Brasis mais Longínquos a possibilidade de desenvolverem uma política pública. Assim são os Pontos de Cultura.

Mas o que tem haver a ética com os Pontos de Cultura? O Programa Cultura Viva tinha que acontecer. Mesmo sem o estado brasileiro estar pronto para tal, nem o próprio movimento cultural, mas ele tinha que acontecer para mostrar ao povo brasileiro a importância que existe nessa efervecência cultural gerada pelos Ponto de Cultura. "Não dava pra esperar o estado brasileiro ficar pronto pra isso. Os pontos de Cultura tinham que ser instalados" disse o César Píva, Coordenador Geral do Programa Cultura Viva, e por isso hoje arcamos com as consequências: Editais cancelados, Prêmios atrasados, Resultados modificados e grande desgaste na relação MinC x Movimento Cultural.

É aí onde reside a importância da ética. Não que não tenha havido até então, mas que ela seja mais clara, que haja um respeito ao que já foi construído. Percebo que esta ética e este respeito deva vir dos dois lados, Estado e sociedade Civil. E sinto que isso venha acontecendo nessa nova gestão, que é nova, mas é de continuidade.

No Plenário houve muitas discussões acaloradas, ataques desnecessários, burburinhos incômodos e tudo que acontece quando se reúne o movimento cultural para se falar de Políticas Públicas. Mas não quero me ater a isso. 

Quero me ater aos resultados práticos colocados pelo Ministério.

1º Mais transparência, ética e melhor comunicação com os envolvidos em suas atividades;

2º Cancelamento de dois editais (Agente Cultura Viva e Agente Escola Viva) pelo prazo expirado do Edital, sem qualquer previsão de Premiação;

3º O Resultado do Prêmio Areté para pequenos eventos foi relançado e aconteceram algumas baixas e que certamente gerarão algumas muitas confusões para frente;

4º Em junho o MinC/SCDC lançará alguns editais em parceria com outros Ministérios e outras secretarias, relacionando a Cultura Com diversas temáticas como o Meio Ambiente, Direitos Humanos e Juventudes;

A partir destes pontos, chego a algumas conclusões. Não corroboro do mesmo desespero de alguns companheiros do Movimento dos Pontos de Cultura, que o Programa Cultura Viva vá se acabar ou ser deixado de escanteio, ainda acredito que este seja o principal programa do Ministério da Cultura. e Lanço a pergunta aos demais: do jeito que está dá pra continuar?

Com repasses fundamentados na Lei 8.666?

Plenário lotado com quase 500 pessoas
Com Editais problemáticos e sem um fundo que garanta o seu pagamento?

Com inúmeros CNPJ's de anos de trabalho sendo queimados por causa de uma política Cultural?

Por isso, eu gosto do discurso da Marta Porto, e acredito que essa ética deva começar dentro de sua casa (MinC/SCDC). Para a partir disto, irmos para o território do simbólico e como ela mesmo disse: "Se não existe sentimentos éticos, não existirá o senso ético" e toda essa problemática dos Editais só gera sentimentos de raiva, ódio e conflito, contradizendo-se com tudo que os companheiros da Cultura de Paz tanto defendem.


Quanto a nossa rede estadual, pude me reunir a noite com Fábio Lima (Potiguar e Chefe da Regional Nordeste do MinC) e com o já citado César Píva, discutimos com alguns representantes do Nordeste a respeito da realização das TEIA's Estaduais e de uma possível TEIA Regional. O MinC demonstrou-se empolgado em apoiar esses eventos, conversamos sobres suas características, a importância de politizá-los, de discutir nossas origens enquanto Ponto de Cultura (passado, presente e futuro). A ideia agora é mapear todas as redes estaduais (quantidade e qualidade de pontos) e escrever os Projetos. Para nossa TEIA Potiguar já tenho um pré-projeto e que mais a frente compartilharei com tod@s.

Quanto ao depósito da segunda Parcela e primeira dos suplentes, o Píva pediu para que ficássemos em contato com ele via e-mail para que ele acompanhe como anda a valiação da prestação de conta da FJA com o Ministério. Caso esteja já encaminhada, o dinheiro será depositado na conta do estado até o dia 31 de maio (Clique aqui e veja a informação oficial).

No mais é isso... vamos conversando e lutando para que nossa rede se fortaleça cada vez mais.

Rodrigo Bico
Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias
Ponto de Cultura Rebuliço
Representante Estadual dos Pontos de Cultura - RN/CNPdC

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Blog do Facetas está de cara nova! Confira!!!

Clique na imagem e vá direto ao Blog

O Blog/site do Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras, no qual sou ator e um dos coordenadores está de cara nova, ele representa um pouco do novo momento do grupo, de autogestão e auto-organização.

Visitem-nos e contribuam para o desenvolvimento e divulgação de nossas atividades!!!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Cineclube Boi de Prata no dia 28 de abril - Os Goonies


Nesta Quinta feira, dia 28 de abril às 19 horas no TECESol, exibiremos o filme The Goonies, de 1985, do gênero aventura, com a Direção de Richard Donner e Roteiro de Steven Spielberg e Chris Columbus produzido pela Universal Studios.

Sinopse:
Grupo de garotos conhecidos como Goonies partem em busca de um lendário tesouro perdido, já que sua cidade corre risco de despejo por dívidas. Sem aceitar que suas casas virem campos de golfe para os almofadinhas, os garotos enfrentam as armadilhas criadas por Willy Caolho, o pirata dono da fortuna perdida, enquanto têm de fugir dos perigosos bandidos da família Fratelli. Uma verdadeira aventura para os pequenos e corajosos exploradores.

As exibições são de entrada franca e exibidas na rua (caso não chova), e fica a cargo do espectador contribuir voluntariamente com a ação do Cine.

O cineclube Boi de Prata tem o apoio do Ministério da Cultura por meio do Cine Mais Cultura.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Plenária da Lei Cultura Viva

Plenária da Lei Cultura Viva
18 de abril no IFRN (Centro de Natal) às 14 horas

PROGRAMAÇÃO

14 horas - Abertura com fala de Rodrigo Bico apresentando a minuta da Lei Cultura Viva
14h30 - Debate a respeito da Lei
16h - Definições para ida de uma caravana Potiguar para a reunião com Marta Porto (SCDC/MinC) e para a Caravna Nacional do dia 25 de maio em Brasília.

ps¹: TODA A REUNIÃO SERÁ TRANSMITIDA ON LINE E ABERTA PARA CONTRIBUIÇÕES VIA INTERNET

Beijos e Abraços
Rodrigo Bico
Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias
Ponto de Cultura Rebuliço
Representante Estadual dos Pontos de Cultura - RN/CNPdC

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Será que Dorian Gray já pintou palhaços?


Como que sem querer
em uma dessas noites infortunas
em que artistas perdem-se nos seus sonhos
Vi-me a frente da casa daquele que pinta quadros
com a força de um viajante cosmopolita

De seu muro sobressaiam cubos de concreto
a roda inerte parava meu olhar
em meio as pedras vazadas avistei
figuras esculpidas na parede

e eu... estático no meio da rua.

Exclamei: estou na frente da casa
daquele que pintou as mães da Cidade Alta
e a Via Sacra da Capela moderna em que batizei
meu afilhado!

Perguntei: será que Dorian já pintou palhaços?
Logo ele que tanto fala do sofrimento
do seu povo. Será que ele pintaria
fanfarrões, bufões, pícaros, bobos,
clowns e brincantes a sorrir
pular e cantar pelas ruas de Paris?

Atrevi-me a responder: ele pintaria o palhaço desterrado
o palhaço taciturno
o palhaço mambembe do sertão profundo
pintaria a lágrima expressionista de um palhaço em cubos.

Não será tua voz que ecoará ao longo dos tempos
Serão tuas imagens
que repetidas vezes reverberarão
nas retinas de nossa memória
Será tua poesia que nada mais é, se não, tua sabedoria
arrumada em algumas palavras
e que nos levará muito além das viagens de Walt Withman.

Assim parti da casa daquele que pinta quadros
com a força de um viajante cosmopolita
e daquele que faz de sua vida um constante ato artístico.


em homenagem ao artista Potiguar, Dorian Gray Caldas.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Reflexões a cerca de nossa militância cultural



Companheir@s da Cultura do nosso estado do Rio Grande do Norte.

Durante anos de nossa história enquanto artistas, saímos de lugar em lugar, patrocinador em patrocinador, fundação em fundação com os nossos “pires” em mãos, balançando e cheios de esperança para que alguma bondosa alma contribuísse com a nossa produção artística, tendo muitas vezes que adaptar nossa obra para que ela encaixe-se no perfil social de determinada empresa. E enquanto fazíamos isso, pudemos ver diversos grupos, coletivos e artistas se esvaírem em meio a ausência total de políticas públicas, partirem para outros estados, alçarem outros vôos e tudo porque não conseguimos, se quer, possibilitar ao Artista Potiguar o vislumbre de uma vida profissional digna e reconhecida. Não falo aqui daqueles que com tudo conseguem fugir a essa regra, estes são minorias, e toda política neoliberal necessita dos exemplos de superação para que possamos almejar a chegada aquele determinado patamar.

Falo dos que fazem arte por serem artistas e que por vias do “destino” (irônico destino) não tiveram cursos de “Produção Cultural”, não sabiam o que eram as chamadas “políticas públicas para arte”, nunca haviam concorrido a um único edital, nem sabiam o que era uma “Associação sem Fins Lucrativos” e muito menos sabiam que seria necessário se ter um contador para poder produzir arte.

Nos últimos anos tivemos uma verdadeira “virada de mesa” e que pegou muitos de nós com extrema surpresa. Tivemos que nos organizarmos das mais diversas formas, em câmaras setoriais, coletivos artísticos, fóruns, conferências e conselhos. Brigamos entre nós mesmos, nos enfraquecemos, ocupamos as citadas cadeiras, aprendemos! (aprendemos?) Depois de inúmeras consultas públicas e Conferências que aconteceram em todo o Brasil, nos lugares mais profundos desse país continental, editais frustrantes, leis excludentes, mas também de muitos outros resultados felizes e bem sucedidos como os editais FUNARTE, Pontos de Cultura, Mais Cultura e ações de Secretarias espalhadas em todo o Brasil, tornou-se necessário a criação de uma verdadeira política de ESTADO e no ano de 2010, em fins de Governo Lula, tivemos a tão sonhada aprovação do Plano Nacional de Cultura, que marca a história do Movimento Cultural do Brasil, a nossa tão sonhado “Política pública para a Cultura”.

Mas não adianta apenas aprovarmos este Plano. Lembro que todo plano deve ser elaborado. Mas nós que construímos um movimento Cultural à anos não devemos colocá-lo nas mãos de “intelectuais” que apenas pensam a cultura, somos nós que a fazemos, que estamos nas praças, nas salas de Teatros, nos auditórios, nas ruas, nas galerias, nas mãos da população, emocionando plateias, enraivecendo gestores, peitando policiais, educando, aprendendo e sonhando a cada dia com a nossa produção. Somos nós que devemos elaborar esse plano, em paridade com os gestores do Estado, ocupar os conselhos, pensar a agenda, fundamentar um organograma, pensar os editais. Este plano definirá a política de cultura do País, de suas Federações e municípios por 10 anos, não podemos começar errando, cheios de arestas. É importante nos prepararmos para esse momento e termos muita calma, pois é chegada a hora. Lembremos daqueles momentos de outrora em que nos reuníamos para chorar nossas mágoas, brigar pelos nossos ínfimos cachês, reclamar dos Autos e carnavais falidos de nosso estado, pois esqueçamos de tudo isso, ou melhor guardemos todas essas cenas como exemplos a não mais serem seguidos, chegamos à uma época em que a organização nos toma, a arte nos aplaca, e a sobriedade se faz necessária. Não nos emocionemos tanto, gosto muito de dizer isso, às vezes a emoção nos tira a razão, talvez seja duro para nós artistas tentar retirar a emoção das coisas, mas o que fazer quando o tempo é curto e a necessidade é extrema?

Reflitamos para a construção...


Abaixo faço alguns apontamentos em 5 eixos diferentes, talvez nos sirvam como importantes balizadores para a nossa reflexão enquanto artistas.


FRUIÇÃO E CIRCULAÇÃO

  • Festivais e Exposições para todas as linguagens artísticas com seleção idônea, transparente por meio de editais públicos;

  • Circulação da Produção Potiguar em todo o estado;

MONTAGEM E PRODUÇÃO

  • Apoio as diversas linguagens para a criação e produção de obras artísticas, por meio de editais de montagem;

MANUTENÇÃO

  • Apoio a grupos, coletivos, bandas e artistas para a manutenção de sua arte, esta não reduz-se a pagamento de espaços, gastos com água e luz, mas também para o campo do intelectual, oficinas de atualização de técnicas, Palestras, cursos de produção Cultural e etc...

PESQUISA

  • Faz-se necessário cada vez mais atrelarmos nossa arte à linhas de pesquisas fundamentadas, não só do artista vive a arte, temos uma rede de profissionais envolvidos e os Pesquisadores de Arte são muitas vezes esquecidos. O Rio Grande do Norte carece de críticos, são eles que fazem a arte do lugar circular na boca do povo, correr mundo. E a pesquisa é importante para formar esse movimento.

FORMAÇÃO

  • Os Pontos de Cultura desempenham no Brasil um papel importantíssimo para o desenvolvimento da educação brasileira, apontado como principal política pública para a Cultura do Governo Lula, atingindo as mais profundas camadas da sociedade, desescondendo o Brasil, mostrando nosso país de Baixo para Cima. Devemos colocar em pauta os Pontos de Cultura para o desenvolvimento dos nossos Planos Estaduais e Municipais, não que eles sejam os únicos caminhos para a formação, enquanto nos apresentamos estamos formando plateia, enquanto expomos nossas obras um público as apreciam, qualquer ação em prol do desenvolvimento da Cultura será formadora, transgressora e revolucionária.


Natal, 28 de Fevereiro de 2011


Rodrigo Bico. Ator, produtor e militante da Cultura

Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias

Coordenador da Rede Estadual dos Pontos de Cultura

Delegado de Teatro eleito para a Pré-Conferência Setorial de Cultura 2010

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A despedida de um artista afogado em si mesmo

Eu vi em teus olhos
(que você nunca pintou)
aquilo que quiseres dizer a vida toda

Você amou cada traço que desenhou

Você amou as alegorias que enfeitaram carnavais de outrora

Você amou cada retrato feito a pulso e grafite
Cada mendigo pintado a nanquim

Amou os índios a óleo
dizimados por homens que não amaram

Amou as pinturas sacras feitas em releituras de homens profanos

Fizestes questão de amar
até o último pulsar de teu coração
as tuas maiores obras
que não foram feitas a óleo
nem a carvão
e nem pela tinta fresca do nanquim
estas foram feitas de carne humana
e lapidadas a cada carinho de pai
pincelado por ti.

O que te diferiu dos homens comuns
foi a tua capacidade de não ter sido comum
e de não entenderem tua complexidade.

No dia que todos entenderem a verdadeira matéria
da qual, nós artistas, somos feitos
a humanidade será mais doce
o amor recairá sobre todos
e os sonhos deixarão de ser devaneios tolos
de homens simples
e tornar-se-ão realidade pura e fresca

e nos deixarão atônitos
assim como nos deixam
cada tela pintada por ti.


a Jobercé Alípio Filho (Tio Beceza, Becé) in memoriam

A investida de um Guerreiro solar frente uma terra fria



Que caiam trovões sobre a terra fria deste país continental
Tua voz descerá sobre as cabeças de um povo que não conhece a visceralidade que emana
das pancadas de teus dedos ensandecidos ao dedilhar melodiosos sonhos
em consonância com as tragédias protagonizadas por nós - pobres homens e mulheres
que não têm nem um pouco da humanidade de que nos fala tua música.

Não sejamos egoístas
não nos emocionemos tanto
não façamos de ti a música que queremos.

Teus bemóis não são meus
teus sustenidos estão acima de mim
uma pobre nota falsa, cansada de desentoar a cada compasso.

Tua clave de sol será nova a cada território pautado
pela tua impiedosidade.

Mas antes alçar vôo
deixa eu dizer-te palavras com ritmos mais brandos que tua voz
e mais descompassado que tua música...

A cada sol novo que nasce
nasce em mim um novo dia
e cada estrela só brilha o suficiente para aquecer o seu povo
mas o teu cosmo não é detentor de nenhuma nação.

Por onde passares
estremecerás a terra
incadeiarás a vista daqueles que não veêm
e os banhará com os mais doces frutos
que a poesia da tua música representa.



em homenagem a Júlio Lima