Abaixo, texto na íntegra:
Começa agora mais um ato da peça de lamentações de um artista desterrado, mais um dia em que minha dor é apenas a palpitação e reverberação da angústia de alguém que grita e ninguém o escuta. Por mais que esse gritar venha acompanhado de um coral e uma orquestra sinfonica, e que entoam juntos o mesmo lamuriar.
Parece que nos encontramos em limbo escuro, denso e frio, guiados por ninguém, em que vez por outra nos aparece um palhaço de cabelos vermelhos arrepiados, com um sorriso cínico no canto de boca dizendo que está tudo bem!
Este monólogo é mais um igual a tantos outros. Já escrevemos cartas e cartas, já esbravejamos em frente a governadorias e Fundações e nada foi feito.
O que posso eu fazer diante de tanto descrédito, de tanta descrença, de tanta desgraça???
Hoje é o dia em que o Elefante Potiguar não soltará um Grito, não fará um só levante, que não comerá uma única migalha de pão antropofágico oferecido aos pobres artistas que só tem ao vinho dionisíaco para se entorpecerem diante da pasmaceira admnistrativa de uma Secretaria Inexistente.
Cuido eu de levantar minha lança e preparar meu escudo, e proteger-me de qualquer ameaça que venha a destruir meu corpo cansado, mas que ainda é vibrante, que ainda fala, que ainda abre grandes rodas ao luar, em praças e palcos espalhadas nessa terra de Poty. Vejo Palhaços Shakespeareanos alçarem vôos daqui, Alegrias e alegrias se sustentarem no ar, Probres artistas de Teatro à Deriva de um mar revolto e enfrentando tempestados afim de deixarem seu barco estável, Estandartes são postos ao sol potiguar para que o mofo inerte não nos ceguem, Teares inteiros não param de produzir arte em tecidos velhos para que Estações inteiras abasteçam-se de arte, para que o teatro chegue em casa à ribeira de um rio poluído de sujeiras capitais.
Só a Antropofagia nos une, e só um Antropófago aliado de uma série de Conservadores democráticos nos une mais ainda. Que fiquem eles caminhando lado a lado enquanto tentamos nos fortalecer, que façam seus banquetes globalitários sem nem nos convidar, talvez por que saberiam que certamente não aceitaríamos o seu convite. Hoje tentarei chegar ao lado de sonhadores e guerreiros como eu, muitos batalham a mais de três décadas, enfrentaram militares e ainda esperam viver dias tranquilos. Coragem meus amigos. Fico eu aqui a esperar o momento em que nos encontraremos, torcendo pra que não cochile e que meu peito não adormeça sobre a ponta de minha própria lança... Viva o Teatro... Viva o Teatro... Viva...
Rodrigo Bico
em face ao Dia Mundial do Teatro