terça-feira, 27 de março de 2012

Monólogo Farsesco de Um Ator Guerreiro



Abaixo, texto na íntegra:

Começa agora mais um ato da peça de lamentações de um artista desterrado, mais um dia em que minha dor é apenas a palpitação e reverberação da angústia de alguém que grita e ninguém o escuta. Por mais que esse gritar venha acompanhado de um coral e uma orquestra sinfonica, e que entoam juntos o mesmo lamuriar.
Parece que nos encontramos em limbo escuro, denso e frio, guiados por ninguém, em que vez por outra nos aparece um palhaço de cabelos vermelhos arrepiados, com um sorriso cínico no canto de boca dizendo que está tudo bem!
Este monólogo é mais um igual a tantos outros. Já escrevemos cartas e cartas, já esbravejamos em frente a governadorias e Fundações e nada  foi feito.
O que posso eu fazer diante de tanto descrédito, de tanta descrença, de tanta desgraça???
Hoje é o dia em que o Elefante Potiguar não soltará um Grito, não fará um só levante, que não comerá uma única migalha de pão antropofágico oferecido aos pobres artistas que só tem ao vinho dionisíaco para se entorpecerem diante da pasmaceira admnistrativa de uma Secretaria Inexistente.
Cuido eu de levantar minha lança e preparar meu escudo, e proteger-me de qualquer ameaça que venha a destruir meu corpo cansado, mas que ainda é vibrante, que ainda fala, que ainda abre grandes rodas ao luar, em praças e palcos espalhadas nessa terra de Poty. Vejo Palhaços Shakespeareanos alçarem vôos daqui, Alegrias e alegrias se sustentarem no ar, Probres artistas de Teatro à Deriva de um mar revolto e enfrentando tempestados afim de deixarem seu barco estável, Estandartes são postos ao sol potiguar para que o mofo inerte não nos ceguem, Teares inteiros não param de produzir arte em tecidos velhos para que Estações inteiras abasteçam-se de arte, para que o teatro chegue em casa à ribeira de um rio poluído de sujeiras capitais.
Só a Antropofagia nos une, e só um Antropófago aliado de uma série de Conservadores democráticos nos une mais ainda. Que fiquem eles caminhando lado a lado enquanto tentamos nos fortalecer, que façam seus banquetes globalitários sem nem nos convidar, talvez por que saberiam que certamente não aceitaríamos o seu convite. Hoje tentarei chegar ao lado de sonhadores e guerreiros como eu, muitos batalham a mais de três décadas, enfrentaram militares e ainda esperam viver dias tranquilos. Coragem meus amigos. Fico eu aqui a esperar o momento em que nos encontraremos, torcendo pra que não cochile e que meu peito não adormeça sobre a ponta de minha própria lança... Viva o Teatro... Viva o Teatro... Viva...


Rodrigo Bico
em face ao Dia Mundial do Teatro

Um comentário:

Gabriel Arcanjo disse...

Senhoras e Senhores
Está tudo sobre controle
Os trabalhos estão dispostos
Em seus devidos lugares
O nome dos artistas
Como podem verificar
Ficam logo abaixo dos trabalhos
Senhoras e senhores
Não é preciso alarde
está tudo sobre controle...

Eu me pergunto
Êxtase é o que interessa?
É o que interessa?
Todos se foram prematuramente
Nem antropofagia
Nem tropicalia
Nos couberam
Polido o esqueleto
De Pedro Álvares Cabral
Carnaval
Mídia global
Coca-Cola
Cocaína
Nem êxtase
Nem orgasmo total
Deglutimos o Pop
O parangolé
O picolé da Kibon
Nos resta os restos
As fezes
Os ossos
Desta deglutição antro-pó-fagica
Da mídia nada nos resta de original
Ora! Mas tudo é hermético
Na desmemória do país
Então edifiquemos a anti-obra
Na efemeridade dos dias
O que é palpável-concreto-invisível-abstrato
E o que está além
Muito além
Do horizonte provável
Delírios plasmáticos?
Alucinógenos?
Nada a concluir!
Criar o código:
Apagar todas as palavras de A a Z
Transmutar a matéria é preciso
Silêncio
Morte
Vida além dos limites da linguagem
Ismos?
Códigos para manter a conversa
Ou controvérsia
Diálogos
Logos-tipos-diversos
Diversidade
Ponto de vista além
Da perspectiva científica
Nem arte
Nem anti-arte
Instaurada a caganeira nacional
Bananas!
Bananas!
Bananas!
Bananas ainda nos restam
Diz a manchete
Favelas erguidas nos morros
Cartão postal
navalha suja de sangue
Prédios da Av. Paulista
População
Povo
Multidão
Massa amorfa
Colisão
Ideais assassinados
Nem cinema
E nem teatro
Só o anonimato desta escrita descontinua
Desta descontinuação
Deste lapso da memória
Polêmica?
Ruptura?
Tradição?
Ou uma sombra no tempo rotulada?
Realidade?
Ilusão?

(Viva o teatro!)