segunda-feira, 18 de março de 2013

A tentativa de uma contextualização das Políticas Culturais no Brasil: Pré-Collor (Parte I)


Historicamente, para se fazer algum tipo de atividade artística, sempre existiu alguém que patrocinasse as aspirações e inspirações de diversos artistas, pelo menos daqueles que sobreviviam de sua arte. Existiam outros que produziram de maneira independente e que, ou tinham um trabalho extra e faziam da arte uma espécie de “hobby”, ou morriam pobres e a míngua e se tornaram artistas valiosos após a morte.
Ao longo do século XX, vimos a Economia de Mercado crescer, a população do mundo também crescer, e surgir uma nomenclatura de Cultura diferente, a de “massa”. Que surgiu unicamente para criar produtos artísticos em larga escala e vender também em larga escala, para uma população consumir também em larga escala. A partir disto e de todas as estratégias de marketing, aconteceu um distanciamento da população de sua Cultura Popular, começamos a consumir excessivamente produtos culturais propagados na rádio e na televisão e de tanto ouvirmos e assistirmos acabamos por concluir e dizer que aquela produção de qualidade questionável é também parte da nossa Cultura.
Devemos olhar com muita cautela e percebermos que a Cultura sempre foi muito bem manipulada por sistemas econômicos e Governos nas mais diferentes épocas. Na ditadura, por exemplo, o “iê iê iê” da Jovem Guarda era amplamente divulgado pelo Regime Militar e alienava toda a população, confrontando diretamente todo um movimento artístico que se contrapunha ao Golpe de 64.

Nesse período acontece a criação da Embrafilme (1969) que estatiza a produção do Cinema Brasileiro. Só que nesse período, estatizar significava “colocar no poder dos militares”. E toda a produção Cultural Brasileira apoiado pelo Estado limitou-se apenas aos financiamentos feitos por esta Empresa Estatal, numa forte tentativa de criar uma espécie de Hollywood Brasileira, utilizando o Cinema como forte ferramenta Política. A Embrafilme só ganha uma parceira pública em 1975 com a criação da FUNARTE (Fundação Nacional de Artes), e também de outras Fundações menos importantes, todas estas ligadas ao, então, Ministério da Educação e da Cultura. As políticas destas instituições serviram só e unicamente aos desejos dos Governantes, a uma elite cultural e econômica, ao eixo territorial Rio-São Paulo. Enquanto a Cultura feita pelo povo e para o povo (a Popular) continuava a míngua e sem apoio algum, e que como costumo dizer, independente de dinheiro essa é a única que vai sempre existir e resistir, enquanto a outra, aquela que não é feita pelo povo, mas para o povo (a de massa), depende diretamente do dinheiro para sua subsistência.
Mas o fato de vivermos em uma Sociedade onde o poderio econômico (e todas suas péssimas consequências) sempre existiu, ouve um afastamento substancial do povo da sua Cultura. A criação de ícones do Pop, de mitos da música internacional, de heróis da nação que cantavam e pintavam um Brasil de uma feição que não era sua, do exílio daqueles que queriam apenas falar a verdade e que recebiam um “cale-se” carimbado em seus passaportes, ou até daqueles torturados e mortos pelo Regime Militar.
O que se viu depois disso, após o fim da Ditadura no Brasil, foram aqueles anos obscuros da década de 80, onde tudo no país estava entrando em processo de reorganização, artistas exilados voltando, a ascensão das Gravadoras e Produtoras Culturais Independentes e um fortalecimento abrupto do Mercado Cultural Brasileiro.
Aqui em nosso estado não vimos muitas coisas diferentes, as políticas culturais nacionais não chegavam por aqui e as Fundações de Cultura serviam à elite coronelista do RN, onde seus gestores sempre utilizaram destas instâncias para fazerem apenas uma extensão do que eles faziam em suas casas e fazendas. Quando um Escritor assumia a Gestão de uma Fundação de Cultura ele servia somente aos escritores, e utilizavam da verba pública como se fosse sua e como se ele fosse um Produtor Cultural e de Eventos. Olhando para hoje, poucas coisas mudaram, poucas foram as ações que apontaram algo diferente, e quando apontaram, não tiveram força política pra derrubar o modo Coronelista de gerir à Cultura Potiguar.

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