quinta-feira, 18 de junho de 2009

Janela indiscretíssima...

A uma distância de aproximadamente dez metros, observei por quinze minutos através de minha janela, um casal bailar, blefar, brigar, beijar e sonhar...
Absorto com toda aquela vida que se passou em tão pouco tempo, e que levou-me a quase pular fora de mim, da janela. Eram eles quem bailavam, mas era eu que ofegava, angustiado com toda aquela situação constrangedora, vivida por eles, e que eu posto em minha janela me vi obrigado a ver toda aquela situação...

Não que eu não gostasse, era bom, era bonito, mas era sofrido, doloroso. Percebi o quão é dolorosa a vida a dois, por quantas incostâncias passamos, por quantas dores engolimos.

E sem que saibamos, somos o tempo todo observados, nos olham, falam de nós, intrometem-se e deixamos que se intrometam. Criamos uma situação muito pior do que a criada pelo Grande Irmão de George Orwell.

Assisti a tudo calado, aguentei a tudo cheio de angústia, me reconhecendo naquelas figuras, no desejo de ir e de ficar, no desejo de segurar o outro na esperança de que as coisas mudem, no desejo de que o outro esboce uma reação mínima que seja, que deixe sua frieza de lado e entregue-se, mas é tudo vão, os desejos para quem não amam transformam-se em simples incomodos desnecessários...

Ele pára frente à porta, chora durante alguns segundos (talvez por um falso saudosismo) e parte para algum lugar...

Ela fica, chora durante alguns segundos (talvez pelo grande amor que sente por ele) e dorme...

Eu apago minhas luzes, tocado não por um, mas pelos dois... Não queria observar-lhes e me deparar com tal situação, não queria ver que somos tão feios e fracos. Mas não pude me conter, eram belos demais para não segurarem o meu olhar, para não suspenderem a minha respiração, por mais que separados (agora) suas afinidades transformaram-se em movimentos, e que afinidade e que movimentos...

Certamente sonharei com vocês no meu próximo sono, espero que bailem e que voem, isso vocês poderão fazer a vontade, pois não estarão em um palco, mais na matéria onírica de minhas imaginações.

Desculpem-me pela (in)descrição.

Rodrigo Bico
"Crônica criada a partir do Experimento Cênico dirigido por Anádria Rassyne e orientado pela Professora Naira Ciotti, pela disciplina de Encenação II no DEART/UFRN"

4 comentários:

Bruno Costa disse...

Aplausos!

Telma Rodrigues disse...

Eu estava lá. Na platéia. Embarcando no delírio daqueles movimentos que nos remeteram a tantos sentimentos de amores e de ausencia de amores. Eu vi as brigas, o dia-a-dia, os motivos dela, as razões dele, o querer partir, o não querer deixar partir. Eu torci deseperadamente pra que ele não fosse. Eu quis chorar junto com ela. Por que não chorei? Não sei. Será cansaço?...

Andressa Celly disse...

"não queria ver que somos tão feios e fracos. Mas não pude me conter, eram belos demais para não segurarem o meu olhar"

são situações assim que nos dão um choque de realidade, pois nos deparamos com nós mesmos no outro, mesmo que muitas vezes não gostemos, e principalmente porque tantas vezes pensamos que somos tão diferentes...

mas assim que é a vida, cheia de conflitos e perguntas, cheia de acasos e indiscrições, cheia de afinidades que se transformam em movimentos que a deixam tão bela de ser assistida por uma janela indiscretíssima...

bela crônica.
=)

TALITA disse...

"Ela fica, chora durante alguns segundos (talvez pelo grande amor que sente por ele) e dorme..."


Talvez pelo grande amor que acabara de perder...


rsrsrs

te adoro!