domingo, 7 de junho de 2009

Uma Fábula que passou...

Em meio a tantas loucuras encaradas na sociedade dita Urbana de Natal, parti com os meus companheiros de Grupo para a Região do Mato Grande, mais precisamente para o Projeto de Assentamento Canudos (Ceará-mirim) e a Comunidade Rural Bebida Velha (Pureza), Zonas rurais como muitas existentes em todo o Brasil a fora, mas o fato de dirigir-me até a estes lugares para apresentar nosso espetáculo (A Ida ao Teatro) tornou-as diferente das outras. Partimos na Manhã do ùltimo sábado (6 de junho) com medo da chuva forte que caia no céu da capital potiguar atrapalhar nossa viagem e nossas apresentações, mas fomos repletos de pensamentos positivos, Cenário, adereços e vontade de transformar o mundo (pobres ambiciosos utópicos).

Chegamos por volta das 12h e 30 e fomos recebidos com muito carinho por alguns moradores da comunidade de Canudos, almoçamos e fomos jogar Sinuca no Bar de Dona Ercília, cheia de sorrisos e boa vontade, tentando contagiar as pessoas com nossa alegria e modo de brincar, surgiram jogadas inacreditáveis, pulos e dancinhas incríveis e ao fundo um som peculiar, nada de Forró tipo Exportação, mas um Forró instrumental, orquestrado e na capa dos CD's diziam assim: Kalú e seu Fole e Pedro Antônio, um pé-de-serra do mais alto nível.

Pois bem, descansamos e fomos montar o cenário, apresentamos como nunca apresentamos, o espetáculo pareceu mais uma conversa de comadre do que uma apresentação teatral, pois o público tinha uma intimidade incrível com os atores, cochichos gritados, risos extravagentes, Cachorros que brigavam pela comida usada em cena, acessórios que desaparecem ou nem apareceram, enfim um pandemônio (no bom sentido), uma apresentação pra ficar em nossa memória, impregnada em nossa pele, em nossas veias. Mais tarde voltamos ao Bar de Dona Ercília e fomos jogar mais sinuca e alguns goles de cerveja, pude ganhar 9 partidas consecutivas com direito a Cara-de-gato no dono da Mesa, os mais sábios chamam isso de "sorte no jogo, azar no amor" (talvez os sábios tenham razão). Na mesma noite sob a lua cheia e irradiante ouvimos violão, jogamos conversa fora e dormimos...

E aventura em Canudos ainda não havia terminado, acordamos por volta das 6 da manhã e fomos de carroça visitar os mamoeiros, os viveiros de tilápia e a criação de Patos, sem dúvida mais um momento inesquecível...

Partimos para Bebida Velha em Pureza no meio da manhã, de barriga cheia e de alma alimentada, sabíamos que iríamos encontrar por lá uma comunidade 8 vezes maior do que canudos, e de fato isso se fez real, começamos visitando a recém inaugurada fábrica de Amêndoas (castanha de caju). Bastos nos recepcionou com sua alegria e humildade e nos acompanhou durante todo o dia com Sônia (Professora) e sua filha Isabela, ao contrário da recepção do Bar de Dona Ercília, nos deparamos com uma relaidade nem um pouco bucólica, mas um som alto e de péssima qualidade tocando o dia todo no Balneário (local de nossa apresentação), e após um almoço fantástico, com direito a galinha caipira e feijão verde com manteiga da terra, pegamos nossos lençóis e travesseiros e fomos dormir num campo de futebol ao lado do Balneário, um campinho maravilhoso e por esse motivo habitado pelas brincadeiras inúmeras crianças, acreditem que em meio a crianças jogando futebol, o Violão sendo tocado, ainda conseguimos dormir, eu particularmente fiz tudo isso, joguei, cantei e dormi.

A Noite nos apresentamos em meio a um público não-pontual e um pouco disperso, talvez pela característica do espaço, mas ainda assim, fizemos uma apresentação sólida e repleta de imprevisibilidades. Após isso, jantamos e voltamos para casa.

Agora chego em casa, de fronte a máquina, com a sensação de que aquela pequena fábula vivida nesses dois dias tivesse, de fato, terminado, que pena... Pois venho precisando de fábulas para pensar em mim, por mais que isso pareça algo antagônico.

Venho pensando em minhas dores, em meus erros e em meus futuros que não terei.

Fica em meu olhar o olhar de pessoas que me abraçaram e que sorriram com minhas peripécias desordenadas, fica a beleza empoeirada do olhar de um povo que batalha diariamente por sua sobrevivência, e que sorriem... isso mesmo, sorriem sem excessos e com uma PUREZA inabalável, como foi a luta do inabalável Antônio Conselheiro e seus companheiros em CANUDOS.

Fica a alegria de andar de carroça, de jogar bola em meio as crianças e de subir ao palco e de mais uma vez brincar de ser outro.

Fica a Força de Livânia, Som, Zenaide, Dona Ercília, Tiago e Dorgival que tão bem nos receberam em Canudos.

Fica a esperança de Bastos, Sônia, Isabele e seus irmãos e Dedé que nos acolheram como concidadãos de Bebida Velha.

Obrigado ao Facetas, Mutretas e Outras Histórias por me fazer ser o que sou e por dividir minhas alegrias e caçoar de minhas tristezas.

Venho começando a aprender a ser só, por mais que caminhe junto as multidões.

2 comentários:

Anônimo disse...

isso é crescer enquanto
ser que tem afeto meu querido
amigo!

mesmo os sonhos coletivos passam por dores particulare, individuais.

você é especial demais!

a dor é mero detalhe nessa "fábula"
que vivida de maneira tão intensa.

bj do lek!

Bruno Costa disse...

Você nunca estará sozinho... e Canudos com certeza não será a mesma depois da passagem do Facetas por lá... abraço forte!