sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Fulmegância no pretérito perfeito


Depois de quase ter minha visão e meu corpo esturricados
Desta vez foi minha'alma que fez questão de pulular em fogo
um simples contato fez com que tudo em volta tomasse
um ar de incerteza

Meu corpo se demonstrou racional e firme
as pernas não titubearam
meus olhos se enrijeceram
minhas mãos não exalou uma gota de suor
(logo elas que são as primeiras a entregarem meu estado de conflito)

Mas dentro...
era tudo líquido, um cachoeira sem prumo
sem chão, esvaindo-se no universo
e quente, dilaceradora em seu rumar
e eu intacto, rígido
admiravelmente seguro de mim

mas dentro...
não existia nada que se sustentava
um terremoto sem placas tectônicas
sem atmosfera e, consequentemente, sem cores
e fora de mim nada transparecia
parecia estar em uma armadura medieval límpida e intacta

mas dentro...
um exército inteiro de bárbaros tentavam destruir
minhas paredes inalteráveis e seguras por fortes colunas de concreto armado

no ápice do encontro entre a cachoeira sem chão
do terremoto desterrado e do exército sem líderes
eu estava lá
inteiro e fumegante

Veio então a chuva
molhou-me por inteiro
porque eu me deixei ser molhado
como criança quando joga futebol e vem a chuva pra lavar o suor
como criança quando se joga na poça de lama do chão de barro
da rua da vovó

essa mesma chuva varreu exércitos, aprumou cachoeiras
e aterrou os terremotos

e aquela que me faz sonhar
esvaiu-se na chuva

ela que já me foi presente e me pareceu ser também futuro
fez questão de esconder-se da chuva, da aventura infante de sonhar
de me acompanhar neste banhar-se de vida
logo ela que sempre me pareceu tão dona de si

vi em seus olhos debaixo de uma sacada próxima
seu sentimento de fraqueza, de impotência
protegida por algo que não a sustentava
sua respiração que sempre me chamou atenção
demonstrou-se alterada
e percebi tudo isso de longe e após a chuva
em que fiz questão de lavar-me

e lavei-me...

assim, fez-se o pretérito
foi-se os sonhos
fecha-se mais um ciclo e
retorna-se ao velho de guerra

aquela que não entregou-se aos sonhos fumegantes da chuva ao meu lado

vez por outra me apareceu...

me abraçou...

e me fez sonhar.

Assim como diz um certo dramaturgo
Coloco um ponto final para que vocês não continuem lendo. Ponto.

Um comentário:

Bruno Costa disse...

Amou daquela vez como se fosse a última... No fundo ele sabia que não era a última, mas nunca sequer fez papel de covarde.